Significado Simbólico e Mitologia de Vénus
Existem várias histórias na Mitologia Védica acerca de Vénus (nome sânscrito Shukra). Referirei aqui a mais repetida pois ela ajuda -nos a tornar mais claro o significado da energia deste planeta que, com Júpiter, é o segundo dos grandes benéficos naturais.
Vénus é filho do sábio vidente Bhrigu , mestre das Ciências Espirituais e conhecedor dos textos sagrados, e que ensinou ao filho toda esta sabedoria.
Entre Júpiter e Vénus existe uma relação de antagonismo (Júpiter é uma energia cuja função é a preservação das forças da vida no mundo material e Vénus dirige a sua energia para a libertação em relação ao mundo material, contribuindo para a destruição neste plano de existência).
Júpiter assumiu a função de guru ou professor dos deuses e Vénus assumiu, por razões de antagonismo com Júpiter, a função de professor dos Asuras (demónios).
O mito conta que, para proteger os Asuras que morressem em campo de batalha com os Devas(deuses) Vénus adorou o deus Shiva e aprendeu com este um método para trazer de novo à vida os demónios mortos.
A história continua narrando a preocupação dos Devas com este poder de Vénus que é o segredo da imortalidade: Júpiter resolveu enviar o filho, Kaca, para aprender com Vénus e obter desse modo o conhecimento desse segredo.
Após a filha de Vénus se ter apaixonado pelo filho de Júpiter, os Asuras descobriram a identidade deste e mataram-no. Ao ver o desgosto da filha, Vénus ressuscitou o jovem mas este voltou a ser morto pelos Asuras e foi novamente ressuscitado, num ciclo que se repetiu várias vezes até que com astúcia os Asuras desfizeram o jovem morto num pó que colocaram no vinho e Vénus bebeu-o sem saber o que continha.
Ao ressuscitar, o Jovem falou de dentro de Vénus e este acabou por lhe transmitir o segredo da imortalidade de modo que o jovem, saindo do corpo de Vénus, usou neste a fórmula da imortalidade, tendo-o trazido novamente à vida.
Esta história mostra, entre outros aspectos igualmente importantes, que a oposição entre as funções criativa e destrutiva dos planetas não é uma situação de exclusão absoluta: através desta história que envolve o filho de Júpiter observamos que, no fim, ambas as funções trabalham para um objectivo comum no ciclo da vida e são, por isso, complementares.(Vénus salva o jovem da morte e este, por sua vez, salva Vénus ao recitar o mantra que o traz novamente à vida).
Júpiter representa a sabedoria dos princípios transcendentes, uma sabedoria que mostra que a dimensão divina está presente no âmago dos seres; mas Vénus representa a possibilidade da ligação entre os seres divinos e os seres não-divinos- os Asuras são os não-deuses e, ao ensiná-los e trazê-los de novo à vida, Vénus mostra que pode haver continuidade da vida no conjunto de todos os seres, através do princípio de coesão ou atração universal, expresso no mundo físico pelo electromagnetismo e no mundo subjectivo pela compaixão, a simpatia e o amor.
Deste modo, para além dos significados mais óbvios e conhecidos, Vénus tem outros significados mais profundos: a sua energia é a expressão da força universal de atracção que une todas as coisas num mundo unitário que supera as divisões entre finito e infinito, mortal e imortal.
É o princípio de união em todas as suas formas.Todas as civilizações antigas reconheceram a importância especial de Vénus. Os antigos Maias centraram mesmo a sua religião e o seu calendário neste planeta. Também é muito antiga a associação entre Vénus e a imortalidade:
Os egípcios chamaram-lhe Ankh, a cruz da vida e entre os Vedas Vénus é associada com Lakshmi/ Radha, a companheira de Vishnu, representando o princípio feminino mais elevado, a capacidade de se harmonizar com o divino pelo sacrifício do ego individual e a devoção e empatia com todos os seres.
Com Vénus os Asuras condenados pelos deuses à morte definitiva recuperam a possibilidade de regressar à vida através do amor . Este significado de Vénus relacionado com a conquista da imortalidade fá-la aparecer como a alta sacerdotisa do conhecimento oculto e dos mistérios.
Vénus mostra que no ciclo eterno da evolução não há seres excluídos e que o segredo da imortalidade é o princípio universal de coesão que agrega e que une: no mundo físico e biológico, através da união sexual que perpetua, num novo ser, a vida que o originou;
No mundo espiritual e do conhecimento, a união entre a mente intelectual finita e discursiva (representada pela energia de Mercúrio) e a mente intuitiva (Atma) que, por essa via, atinge o equilíbrio no princípio da justiça e do amor universal que permitem a todas as criaturas o mesmo destino final.
Enquanto personificação deste princípio ela é Radha, a amada de Krishna e representa o nosso contentamento ou felicidade individual.
Vénus tem a sua expressão mais elevada na constelação (Nakshatra) Revati situada na parte final do 12º signo ( Peixes). Vénus tem aqui a dignidade de exaltação e isto mostra a importância dos significados que ela representa para o conceito de salvação (Moksha) expresso nesse Nakshatra (ver aqui).
Não é por acaso que Vénus é o único planeta que tem, na 12ª casa do horóscopo, resultados benéficos. Ela representa o ponto de equilíbrio entre todas as polaridades da vida, o ponto em que cessa o antagonismo entre os opostos para surgir a integração entre o mortal e o imortal, o masculino e o feminino e em que, através da beleza e do amor,todas as coisas encontram finalmente o seu ponto de união.