Neste artigo falamos da linguagem velada das flores.
As flores têm tido um papel principal em várias culturas, da Europa à Ásia e ao Médio Oriente. Na vida social e mundana mas também na religião, foram associadas a significados simbólicos que inspiravam e transmitiam tanto as emoções humanas como as que são associadas ao divino e ao sagrado.
Existem referências simbólicas das flores na Bíblia e Shakespeare usa personagem Ofélia no Hamlet para descrever vários significados de plantas e de flores. Na Idade Média os jardins eram muitas vezes concebidos e adornados com flores que evocavam determinados significados simbólicos.
Tais significados apoiavam-se muitas vezes na aparência das flores e das plantas ou mesmo no seu comportamento , sempre baseado na analogia: assim, a mimosa, por ex., simboliza a castidade porque as suas folhas fecham-se à noite ou quando são tocadas.
A semelhança está na base de todas as associações simbólicas e, na linguagem das flores, comparam-se características das plantas com emoções ou comportamentos atribuídos ao homem ou ao divino. Vários deuses do mundo antigo foram associados a flores e plantas.
As flores estão presentes em todos momentos importantes da vida humana, como forma de celebração, de expressão de afeto, de homenagem… do nascimento ao casamento, dos eventos felizes e significativos da vida ou na despedida do mundo terreno, as flores são uma presença constante.
Porém, foi a partir do século 19 que a chamada «linguagem das flores» se tornou num caso sério de popularidade e numa forma de comunicação velada de sentimentos e de emoções, transformando-se num modo privilegiado para partilhar pensamentos, desejos, etc, de forma socialmente aceite.
Esta forma de comunicação assumiu formas de galantearia e de glamour, tornando-se num meio imprescindível para fazer chegar mensagens poéticas e confissões de amor , votos de amizade , despiques de ciúmes …tudo era permitido na linguagem das flores, ao contrário do que acontecia com as palavras abertas, sujeitas a estreito e rígido controle da moral puritana da época.
Através da linguagem das flores iniciavam-se rituais de namoro e abriam-se hostilidades; exprimia-se o fogo da paixão e a promessa de amor eterno mas também o rompimento dos laços e o sobressalto dos ciúmes ou a dor de um amor que se perdeu.
Deste modo, à distância, acompanhando um simples cartão, as encomendas das floristas contavam as histórias de sucesso e de fracasso destes relacionamentos alimentados pelo simbolismo das flores. Receber um «bouquet» era muito mais do que um gesto de atenção: era uma mensagem clara contada pela espécie de flores e pelas suas cores, e estas nunca eram escolhidas ao acaso nem por meros critérios de estética pois estavam ao serviço de uma semântica com significados definidos.
E, para garantir o sucesso desta comunicação , foram publicados livros que explicavam detalhadamente todos os significados das flores. O primeiro a ser publicado foi «A Linguagem das Flores» em 1819, escrito por Charlotte de La Tour. Posteriormente, em 1884, Kate Greenway publicou também um livro com o mesmo nome e que se mantém hoje acessível aos leitores que se querem iniciar na arte desta linguagem simbólica das flores.
Em tempos mais antigos e depois na Idade Média e Renascentista, o simbolismo das plantas e das flores estava ao serviço da religião. As flores eram uma forma de ligação com o sagrado. Esta ligação é visível na Arte, sobretudo na Literatura, na Pintura e na Escultura.
Porém, a partir do século 18 e, especialmente ,do século 19, no auge da época vitoriana, cujos rígidos princípios da moral proibiam a expressão aberta e direta das emoções, a linguagem das flores tornou-se numa expressão rica e multifacetada, ainda que velada, de todo o naipe de emoções humanas, negativas e positivas, cuja forma codificada de expressão a libertou da censura social.
Confissões de amor ou, pelo contrário expressões de raiva ou de descontentamento eram feitas exibindo um pequeno arranjo floral ou enviando-o à pessoa a quem se dirigia a mensagem sem que fosse proferida uma única palavra. As flores eram colocadas no cabelo, a adornar a roupa que se vestia; na decoração do lar.
A publicação dos livros de significados das flores ajudou a popularização desta forma de linguagem, estabelecendo um uso comum dos mesmos, acabando-se assim com a multiplicidade de significados e de associações para cada uma das flores ou plantas. Durante a primeira metade do século 19 esta linguagem universalizou-se em França e em Inglaterra, tendo-se estendido aos Estados Unidos entre a década de 30 e 50 do século 19.
Hoje em dia, a linguagem das plantas tornou-se uma «linguagem morta», uma curiosidade de tempos passados: de há muito que homens e mulheres não precisam de velar a expressão dos sentimentos e das emoções sob a capa da linguagem das flores.
Os critérios morais e os meios de comunicação transformaram-se e transformaram-nos. Mas, no imaginário, nosso e no coletivo, vive uma espécie de nostalgia pelo glamour desta «linguagem das flores». Assim, para os leitores que apreciam este simbolismo, vamos deixar-vos excertos deste léxico fascinante, hoje com alguns significados atribuídos às ervas aromáticas ou curativas:
Alfazema- Virtude, devoção
Aloés- Cura, proteção, afeto. Segundo Kate Greenway também desgosto e superstição religiosa.
Angelica- inspiração
Achileia/ Milefólio – Amor duradouro. Segundo K. Greenway Guerra.
Artemísia – Interesse duradouro
Beladona- Silêncio
Borragem- Rude franqueza.
Camomila- Paciência. Também energia na adversidade.
Coentros – Riqueza escondida
Cominhos – Fidelidade
Endro/Aneto – Poder contra o mal
Funcho- Lisonja
Manjerona – Alegria e Felicidade
Manjericão- Ódio
Flor de Macieira- Preferência. Boa fama.
Orégão- substância
Rosmaninho- Recordações
Hortelã Pimenta – Virtude
Salsa – festividade
Sálvia- Sabedoria, imortalidade
Sálvia azul- Penso em ti
Sálvia vermelha- minha para sempre
Tomilho- Força. Coragem
Valeriana- Prontidão